O cultivo da soja é altamente influenciado pelas condições climáticas, especialmente pela temperatura. Esse fator ambiental impacta diretamente os processos fisiológicos das plantas, desde a germinação até a colheita. Em um cenário de mudanças climáticas e aquecimento global, compreender como o calor afeta a produtividade da soja se tornou essencial para produtores que buscam estabilidade e eficiência na lavoura.
Desde o plantio, a temperatura exerce papel decisivo. A germinação da soja pode ocorrer em uma faixa ampla de temperatura, entre 5°C e 45°C, mas o desempenho ideal acontece próximo a 31,5°C. Valores abaixo ou acima desse intervalo podem comprometer seriamente o estabelecimento das plantas. Por exemplo, em dias muito quentes, solos expostos podem alcançar temperaturas de até 60°C, provocando a morte de plântulas logo após a emergência — fenômeno conhecido como “tombamento por calor”. Essa fase inicial é determinante, pois define a densidade populacional da lavoura, exigindo o uso de sementes com alto vigor para suportar condições adversas.
Durante o crescimento vegetativo, a soja também apresenta limites térmicos bem definidos: o crescimento é favorecido entre 7,6°C e 40°C, com um pico ideal por volta de 31°C. Quando a temperatura supera esse teto, a planta entra em estado de estresse. Isso pode causar danos às folhas, como necroses, provocadas por reações químicas que afetam as membranas celulares. Esse desgaste compromete a fotossíntese e, por consequência, o desenvolvimento da planta.
A fase reprodutiva, em que a planta floresce e inicia a formação de vagens, é ainda mais sensível ao calor extremo. Nessa etapa, temperaturas acima de 40°C podem levar à queda de flores e abortamento de legumes, reduzindo diretamente o rendimento final da lavoura. A faixa ideal para essa fase gira em torno de 25°C — condição comum em áreas de maior altitude, como Passo Fundo e Vacaria (RS), onde as noites mais amenas favorecem o desempenho da soja. Em contrapartida, regiões mais quentes, como a Região das Missões, enfrentam limitações naturais para atingir altos tetos produtivos devido às temperaturas noturnas elevadas.
O verão de 2021/22 ilustra bem os riscos do estresse térmico: ondas de calor intensas no Sul do Brasil, com vários dias acima dos 35°C, causaram danos severos em lavouras de soja. Folhas queimadas e baixa interceptação de luz solar resultaram em perdas consideráveis de produtividade. Esse tipo de evento reforça a necessidade de adaptação da sojicultura aos desafios climáticos que vêm se intensificando ano após ano.
Para enfrentar esse novo cenário, estratégias de manejo devem ser repensadas. O uso de sementes de qualidade, a seleção de cultivares mais tolerantes ao calor e a adoção de práticas que protejam o solo — como o uso de cobertura vegetal — são fundamentais. A mitigação dos efeitos do calor extremo passa, sobretudo, por planejamento, conhecimento técnico e investimento em soluções que tornem a lavoura mais resiliente.
Em tempos de clima imprevisível, adaptar-se às variações térmicas não é mais uma opção — é uma necessidade para garantir a sustentabilidade e a viabilidade econômica da produção de soja no Brasil.
Autora: Jennifer Seitenfus Zanus, estudante do curso de Agronomia da UFSM e integrante da Equipe FieldCrops.
Referência bibliográfica:
Tagliapietra, Eduardo L. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. 2. ed. Santa Maria, 2022.