Plantio Direto de Grãos: o aliado da produtividade sustentável em Santa Catarina

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SPDG, difundido pela Epagri há 40 anos, é umas das tecnologias do Plano Estadual ABC+ (Foto: Jonatan Jumes / Epagri)

Um dos maiores desafios da agricultura moderna é encontrar o equilíbrio entre alta produtividade e preservação ambiental. Nesse cenário, o Sistema de Plantio Direto de Grãos (SPDG), promovido pela Epagri há mais de quatro décadas, desponta como uma solução eficiente e de longa duração. Muito mais do que uma técnica agrícola, o SPDG representa um modelo sustentável que contribui para o sequestro de carbono, melhora a fertilidade do solo e aumenta a rentabilidade do produtor rural.

Agricultura que combate o efeito estufa

Embora o carbono seja um dos elementos mais presentes nos organismos vivos e essencial à vida na Terra, seu excesso na forma de gases, como o dióxido de carbono (CO₂), metano (CH₄) e óxido nitroso (N₂O), tem sido o principal responsável pelo agravamento do efeito estufa. O Plano Estadual ABC+ 2020-2030, do qual a Epagri faz parte, tem como objetivo justamente promover práticas de baixa emissão de carbono na agricultura — e o SPDG é uma dessas práticas-chave.

O sistema consiste na manutenção da cobertura vegetal do solo, seja com plantas vivas ou mortas (palhada), evitando o revolvimento do solo e promovendo uma rotação diversificada de culturas. Isso permite que o carbono capturado pelas plantas durante a fotossíntese permaneça por mais tempo no solo, reduzindo significativamente sua liberação para a atmosfera.

Uma técnica com muitos benefícios

Segundo dados da Epagri, somente nos últimos três anos, o SPDG foi corretamente implantado em mais de 57 mil hectares em Santa Catarina. A instituição também capacitou mais de dois mil agricultores no estado para adotar o sistema com eficiência. Em regiões como Chapecó, estima-se que mais de 80% das famílias agricultoras já utilizam essa técnica, o que mostra sua ampla aceitação.

As vantagens são muitas: maior retenção de água no solo, melhor aproveitamento de nutrientes, menor uso de fertilizantes e, consequentemente, redução nos custos de produção. A matéria orgânica formada a partir da decomposição da cobertura vegetal enriquece o solo de forma natural, favorecendo a produtividade mesmo em períodos de escassez hídrica ou ataques de pragas.

Economia e sustentabilidade no campo

Além dos ganhos ambientais, o SPDG representa uma economia direta para o agricultor. Estimativas mostram que eliminar o preparo tradicional do solo (com lavração e gradagens) pode reduzir os custos em até R$ 970 por hectare. Isso sem contar a diminuição na aplicação de fertilizantes nitrogenados, que, além de caros, são grandes emissores de gases do efeito estufa quando mal manejados.

O pesquisador Leandro Wildner, da Epagri/Cepaf, destaca que há propriedades no oeste catarinense que praticam o plantio direto há mais de 30 anos sem revolver o solo. A família Valentini, de Chapecó, é um exemplo de sucesso: colheu entre 10 e 12 toneladas de milho por hectare, superando a média estadual. Além da produtividade acima da média, a propriedade se mantém resistente aos impactos das mudanças climáticas e com menor dependência de insumos externos.

Um legado que inspira

Arlindo Valentini, patriarca da família, adotou o SPDG há cerca de três décadas, sempre com o apoio técnico da Epagri. Hoje, os filhos Alessandro e Alex seguem aplicando os mesmos princípios, colhendo os frutos dessa decisão visionária. Para quem pensa em começar, o conselho do agricultor resume bem a filosofia por trás do plantio direto: “Tem que seguir”. A simplicidade da frase carrega o peso da experiência e a confiança em um sistema que se provou eficaz ao longo do tempo.

O SPDG não é apenas uma técnica agrícola. É um caminho sólido para a construção de uma agricultura que respeita os ciclos da natureza, protege os recursos naturais e garante o sustento das próximas gerações.