Na região de Parové, no distrito de Passo Novo, em Alegrete, um trabalho preventivo tem sido realizado para conter a propagação da hidatidose, uma doença parasitária que pode afetar animais e humanos. Everson Brandolt de Morais, pecuarista local, participa de uma iniciativa que busca reduzir a incidência da infecção por Echinococcus granulosus, o verme responsável pela doença. Em sua propriedade, os cães recebem vermífugos a cada três meses, prevenindo a transmissão do parasito e protegendo a saúde do rebanho e da comunidade.
O projeto “Sanidade e Educação em Saúde Única na Ovinocultura”, estabelecido em 2023, é resultado de uma colaboração entre a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) e o município de Alegrete. A iniciativa conta com a participação de instituições como a Unipampa de Uruguaiana, o Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp) e a Emater/RS-Ascar. A principal missão é conscientizar produtores rurais sobre os riscos da hidatidose e como evitá-la.
Estratégias de Prevenção e Controle
A médica veterinária Rovaina Doyle, pesquisadora da Seapi, explica que a disseminação da hidatidose acontece devido à interação entre cães, ovinos e seres humanos. Os ovos do parasita são eliminados nas fezes dos cães e podem contaminar pastagens e fontes de água, infectando os animais que ingerem esse material. Ao consumir órgãos infectados de ovinos sem o devido cozimento, os cães perpetuam o ciclo da doença.
Para combater esse problema, o projeto atua diretamente em 11 propriedades, fornecendo vermífugos gratuitos para os cães, distribuindo materiais educativos e promovendo visitas técnicas. “Estamos produzindo cartilhas para crianças e folders para produtores, reforçando a importância de medidas preventivas”, destaca Rovaina.
O veterinário e professor Tiago Gallina, da Unipampa, também está à frente das ações, investigando registros de abatedouros para mapear a presença da hidatidose nos rebanhos. Ele explica que os sintomas em humanos podem demorar anos para se manifestar, com cistos crescendo lentamente no fígado, pulmões e até no cérebro, podendo comprometer o funcionamento dos órgãos.
Experiências no Campo
Everson Brandolt de Morais, criador de ovinos e bovinos, inicialmente não dava importância à hidatidose, até ser alertado pela equipe veterinária. Desde então, passou a seguir rigorosamente as recomendações, administrando vermífugos nos cães e evitando oferecer vísceras cruas a eles. “Antes eu não ligava, mas agora cozinho tudo. Meus filhos também estão aprendendo”, relata.
Outro caso que exemplifica a gravidade da doença é o de Glaisson Lemes, que aos 17 anos começou a sentir dores intensas. Diagnosticado com hidatidose pulmonar, precisou passar por uma cirurgia para remover um cisto do tamanho de um ovo de galinha. Hoje, aos 37 anos, leva uma vida normal, mas precisa de monitoramento contínuo.
O Que É a Hidatidose?
A hidatidose é uma doença parasitária crônica causada pela larva do Echinococcus granulosus, um verme do grupo das tênias. No intestino dos cães, os parasitas adultos liberam ovos que contaminam o ambiente. Os humanos e os animais se infectam ao ingerirem água, hortaliças ou alimentos contaminados pelos ovos do parasito. A doença pode levar anos para se manifestar e, em estágios avançados, requer cirurgia para remoção dos cistos.
Os sintomas variam de acordo com a localização dos cistos. No fígado, podem causar aumento abdominal, náusea e dor; nos pulmões, geram tosse e dificuldade respiratória. A prevenção inclui evitar que cães consumam órgãos crus de ovinos, manter hábitos de higiene e cercar hortas para impedir contaminação.
O Futuro da Prevenção
Atualmente, o projeto monitora 61 propriedades no Rio Grande do Sul, onde a incidência da hidatidose ainda é significativa. O objetivo é ampliar as medidas preventivas para outras regiões, reduzindo a presença da doença no estado. “Nosso plano é expandir essa ação para todo o Rio Grande do Sul e conscientizar cada vez mais produtores”, finaliza Gallina.
A hidatidose é silenciosa, mas seu impacto pode ser devastador. Com educação sanitária e controle rigoroso, é possível minimizar os riscos e garantir um futuro mais seguro para animais e humanos.