A cidade de Bagé foi palco de um encontro estratégico que reuniu 35 técnicos da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) de diversas regiões do Rio Grande do Sul. Organizado pela Embrapa Pecuária Sul em parceria com a Inspetoria de Bagé e apoio do Programa Estadual de Sanidade Ovina (Proeso), o evento teve como foco a apresentação de avanços significativos no campo da genética ovina, com ênfase em tecnologias que prometem transformar a produção no campo.
O destaque da programação ficou por conta das pesquisas que envolvem ovinos com perda espontânea de lã — uma característica genética que elimina a necessidade da tosa e, consequentemente, reduz custos e facilita o manejo dos animais. De acordo com o pesquisador José Carlos Ferrugem, esse avanço é fruto de um trabalho iniciado em 2017, com a introdução do gene Vacaria em cruzamentos com o gene Booroola. Mais recentemente, um terceiro gene, batizado de “gene Embrapa”, passou a integrar o projeto, resultando em animais triplos heterozigotos da raça Santa Inês, que apresentam níveis de ovulação até cinco vezes superiores à média.
A iniciativa visa criar uma linhagem ovina adaptada às necessidades do produtor moderno, reunindo quatro características fundamentais: alta fecundidade, resistência à verminose, perda natural da lã e melhor conformação de carcaça. Cerca de 70% dos animais com a mutação genética da perda de lã já demonstram a característica, principalmente durante o verão, quando o fenótipo se torna mais evidente. No inverno, a lã volta a crescer, o que indica um ciclo sazonal vantajoso para sistemas produtivos voltados à produção de carne.
Além das apresentações teóricas, o encontro contou com atividades práticas para reforçar a importância da diferenciação entre características genéticas e problemas sanitários. Segundo Nathalia Bidone, coordenadora do Proeso, é essencial que os fiscais da Seapi estejam preparados para identificar corretamente animais com perda natural de lã, evitando que essa condição seja confundida com doenças como a sarna, que apresenta sintomas semelhantes.
O pesquisador Carlos Hoff de Souza também compartilhou os próximos passos da pesquisa: a aplicação de seleção assistida em rebanhos comerciais, utilizando carneiros geneticamente melhorados oriundos do plantel da Embrapa. A instituição busca, agora, parcerias com produtores rurais dispostos a incorporar essa genética de ponta em suas criações, ampliando o impacto da inovação na cadeia produtiva da ovinocultura brasileira.
A iniciativa reforça o papel estratégico da pesquisa agropecuária na busca por soluções sustentáveis, adaptadas às realidades regionais e voltadas para o aumento da produtividade com menor exigência de manejo, fortalecendo a competitividade do setor.
