A raça Purunã, desenvolvida no Paraná, tem ganhado espaço em diversas regiões do país por sua adaptabilidade e desempenho como gado de corte. Com o objetivo de potencializar ainda mais suas qualidades, um projeto inédito de melhoramento genético está sendo conduzido por pesquisadores paranaenses, apostando em ferramentas de ponta da genômica para transformar o futuro da produção de carne bovina no Brasil.
Financiado com R$ 1,1 milhão pelo Governo do Estado — por meio da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária —, o projeto batizado de Purunã – Genômica pretende identificar, com alta precisão, os animais com maior potencial produtivo, usando análises moleculares detalhadas.
Segundo Luiz Márcio Spinosa, diretor da Fundação Araucária, a iniciativa une duas grandes forças do estado: o domínio em genômica e a excelência da pecuária. “Essa combinação nos proporciona um salto competitivo, com impacto direto no desenvolvimento econômico rural”, ressaltou.
Um Avanço Estratégico para o Agronegócio
O coração do projeto é a identificação de genótipos superiores, capazes de gerar linhagens mais produtivas, eficientes e resistentes. Para isso, o DNA de cada animal é analisado com tecnologia de chips capazes de ler cerca de 100 mil marcadores do tipo SNP (Single Nucleotide Polymorphism). Com essas informações, uma análise estatística avançada cruza dados genéticos e fenotípicos, atribuindo um Valor Genético a cada bovino.
“O objetivo é selecionar animais mais precoces e produtivos, que fiquem menos tempo no pasto e tragam mais retorno econômico ao pecuarista”, explicou José Luis Moletta, pesquisador do IDR-Paraná, que acompanha a evolução da raça desde os anos 1980.
Outra frente do estudo busca indivíduos com resistência a parasitas como o carrapato, reduzindo custos com medicamentos e aumentando o bem-estar animal — um fator cada vez mais valorizado no mercado global de carnes.
Seleção Genômica e Novas Possibilidades
Além da eficiência produtiva, a seleção genômica permite mapear características como marmoreio, maciez da carne, eficiência alimentar, fertilidade e até mesmo a redução da emissão de metano, contribuindo com a sustentabilidade ambiental da atividade.
O professor Bruno Ambrozio Galindo, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (Uenp), destacou a utilização de metodologias como a Associação Genética Ampla (GWAS), que identifica genes ligados a características específicas. “Essa precisão nos permite escolher com segurança os melhores reprodutores e prever o desempenho das gerações futuras”, afirmou.
Multiplicação Genética e Expansão do Rebanho
Com cerca de 3,5 mil exemplares no Paraná — dos quais 3 mil estão em unidades experimentais do IDR-Paraná e da UFPR —, a raça Purunã poderá passar por uma rápida expansão nos próximos anos. Técnicas como a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) e a Transferência de Embriões (TE) serão utilizadas para multiplicar os animais geneticamente superiores.
Alexandre Leseur dos Santos, pesquisador da UFPR, explicou que a segunda fase do projeto prevê a distribuição de embriões melhorados aos produtores interessados. “Inclusive criadores de leite poderão aproveitar vacas fora do ciclo reprodutivo leiteiro como receptoras de embriões Purunã, diversificando suas propriedades com animais de alto valor comercial”, disse.
Uma Raça com DNA Paranaense
Criada a partir de cruzamentos entre Caracu, Canchim, Charolês e Angus, a raça Purunã reúne rusticidade, rendimento de carcaça e qualidade de carne, com boa capacidade materna nas fêmeas. Seu desenvolvimento começou nos anos 1980 e, em 2016, foi oficialmente reconhecida pelo Ministério da Agricultura. O nome é uma homenagem à Serra do Purunã, próxima ao local de sua criação.
A expectativa dos pesquisadores é tornar o Purunã uma das poucas raças no mundo com praticamente todos os seus animais vivos genotipados, o que garantirá um controle extremamente eficaz do progresso genético.
Colaboração Global e Projeções Futuras
O projeto também se beneficia da expertise internacional. Pesquisadores da University of Guelph (Canadá) e da University of Georgia (EUA) participam da iniciativa, oferecendo suporte técnico e científico de alto nível. Além disso, há colaboração com instituições brasileiras como a Embrapa, universidades federais e a Associação Brasileira de Criadores da Raça Purunã.
A expectativa é de que, com os avanços proporcionados pela genômica, a raça não apenas amplie sua participação no mercado nacional, como também abra portas para novos mercados e aplicações sustentáveis no setor pecuário.