O Dia Nacional da Conscientização sobre Mudanças Climáticas, comemorado em 16 de março, surge como um momento de reflexão sobre os impactos do aquecimento global e a busca por soluções sustentáveis. Fenômenos climáticos extremos, como secas, tempestades e ondas de calor, têm se tornado cada vez mais frequentes, afetando profundamente a produção agropecuária. No Paraná, estado de forte tradição no agronegócio, a irregularidade climática impacta diretamente culturas essenciais como soja, milho, trigo, feijão, hortaliças e frutas, além da criação animal, tornando a produção mais vulnerável e onerosa.
A agricultora Ana Maria Cardoso de Oliveira, residente no quilombo Remanescente em Adrianópolis, relata como a imprevisibilidade do clima afeta seu trabalho. Cultivando alimentos como feijão, mandioca, milho, verduras, frutas e pupunha, Ana enfrenta desafios crescentes. “Ora chove demais, ora de menos, e o calor está insuportável. Já tivemos perdas consideráveis nas lavouras”, relata.
A vulnerabilidade da agricultura familiar às mudanças climáticas é corroborada pelo estudo “Será que vai chover?”, do Observatório do Clima em parceria com a CONTAG. O levantamento destaca que práticas agroecológicas podem mitigar esses impactos, fortalecendo a resiliência das lavouras. Ana e outras mulheres do quilombo participam de uma Organização de Controle Social (OCS) e recebem assistência técnica pelo Programa Paraná Mais Orgânico, promovendo práticas sustentáveis. “Estamos aprendendo a cuidar melhor da terra, preparar biofertilizantes e proteger nossa produção”, explica Ana.
Outro exemplo é Celina Ferreira Ribeiro, do quilombo Porto Velho, também em Adrianópolis. “Moramos à beira do rio e sempre enfrentamos chuvas e desmoronamentos, mas agora o calor está muito mais intenso. A lavoura não produz como antes, e há dificuldades até para manter uma horta sem estufa”, destaca. A rotina dos agricultores também foi alterada, pois o calor extremo limita o tempo de trabalho no campo.
Diante desse cenário, práticas agroecológicas vêm ganhando espaço como solução para fortalecer a segurança alimentar e a produtividade. O engenheiro agrônomo Moacir Roberto Darolt, do IDR-Paraná, enfatiza que a dependência dos agricultores familiares dos recursos naturais torna essencial a adoção de técnicas sustentáveis. “A agroecologia é um caminho viável para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas”, afirma.
Práticas Sustentáveis para uma Agricultura Resiliente
Na Estação de Pesquisa em Agroecologia de Pinhais, primeira certificada como orgânica no Brasil, são desenvolvidas técnicas que auxiliam na adaptação climática. Algumas das mais eficazes incluem:
- Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH): Mantém a cobertura vegetal permanente, reduzindo a erosão, conservando umidade e melhorando a fertilidade do solo.
- Compostagem: Converte resíduos orgânicos em adubo natural, promovendo a sustentabilidade e o reaproveitamento de nutrientes.
- Adubação verde: Uso de leguminosas para enriquecer o solo, fixar nitrogênio e minimizar os impactos da compactação.
- Bioinsumos: Fertilizantes e defensivos naturais que reduzem a dependência de produtos químicos e preservam a biodiversidade do solo.
- Sistemas agroflorestais e silvipastoris: Integram culturas agrícolas, árvores e animais, diversificando a produção e protegendo o meio ambiente.
- Variedades adaptadas ao clima: Cultivares resistentes a condições adversas, reduzindo riscos de perdas.
- Quebra-ventos naturais: Barreiras vegetais que minimizam o impacto dos ventos fortes e ajudam na conservação do solo e da umidade.
O Futuro da Agricultura Sustentável
O compromisso com a pesquisa e a assistência técnica é essencial para preparar os agricultores frente às mudanças climáticas. O IDR-Paraná reforça a importância do monitoramento climático, capacitação e acesso a políticas públicas voltadas à sustentabilidade. O caminho para uma agricultura mais resiliente passa por iniciativas que promovam não apenas a adaptação, mas também a preservação do meio ambiente e a segurança alimentar da população.