O primeiro boletim agrometeorológico anual do IDR-Paraná revelou que 2024 foi caracterizado por um regime climático predominantemente seco na maior parte do estado, com chuvas mal distribuídas. Somente o extremo sul e o litoral registraram volumes significativos de precipitação, enquanto as demais regiões enfrentaram períodos prolongados de estiagem.
Dados das estações meteorológicas do Simepar indicam que Guaratuba teve o maior volume pluviométrico anual, acumulando 3.171 mm, seguido por Guaraqueçaba, com 3.164 mm. Por outro lado, Cambará, no norte do estado, registrou o menor índice, com apenas 785 mm ao longo do ano.
Distribuição Irregular das Chuvas
A análise das anomalias de precipitação mostra que, enquanto no norte e oeste do Paraná as chuvas ficaram abaixo da média histórica, a região metropolitana de Curitiba e o centro do estado tiveram índices próximos ao esperado. O litoral apresentou o maior excedente, com 345,5 mm acima da média, enquanto o norte registrou um déficit de 427,6 mm. No geral, o Paraná teve uma precipitação média de 1.655,5 mm, um desvio negativo de 48,9 mm em relação à média histórica.
A variabilidade mensal foi expressiva: em seis meses do ano, as chuvas ficaram abaixo da média histórica, três meses registraram volumes superiores e outros três apresentaram valores próximos ao esperado. Junho foi o período mais crítico, especialmente no noroeste e norte do estado, onde não houve precipitação por 34 dias consecutivos.
Temperaturas Acima da Média
Além do déficit hídrico, as temperaturas máximas e mínimas estiveram acima da média histórica na maior parte do Paraná. A maior temperatura máxima média foi registrada em Loanda, no noroeste, com 32,3°C, enquanto Palmas/Horizonte, no sul, teve a menor, com 21,4°C. Em média, a temperatura máxima do estado ficou em 28°C, superando em 1,5°C a normal climatológica.
A temperatura mínima também seguiu essa tendência de alta. Loanda registrou a maior mínima média, com 20,1°C, e Palmas/Horizonte teve a menor, com 12,4°C. A média estadual foi de 16,6°C, um acréscimo de 0,9°C em relação à normal climatológica.
O outono e o inverno foram considerados quentes, com poucas incursões de massas polares. As baixas temperaturas foram mais expressivas apenas em agosto, considerado um mês de frio tardio.
Impacto na Agricultura
As adversidades climáticas afetaram significativamente as principais culturas agrícolas do estado. O feijão da primeira safra teve produtividade reduzida devido às chuvas excessivas no plantio e ao calor intenso na fase de enchimento dos grãos. A soja também apresentou queda na produtividade em razão da estiagem, altas temperaturas e incidência de ferrugem asiática. O milho da primeira safra sofreu com o calor e ataque de pragas, resultando em colheitas abaixo do esperado.
Na segunda safra, tanto o feijão quanto o milho tiveram problemas de desenvolvimento devido à estiagem e à distribuição irregular das chuvas. O trigo, cultura sensível às variações climáticas, enfrentou estiagens severas no norte e nordeste, enquanto no sul e sudoeste foi afetado por geadas intensas em agosto.
O café também foi prejudicado. A safra 2023/2024 teve baixa produtividade e qualidade devido à combinação de estiagem prolongada e altas temperaturas, fatores que também favoreceram a incidência de pragas. A safra 2024/2025 já iniciou com impacto negativo, pois as altas temperaturas de setembro e outubro prejudicaram as floradas iniciais.
Outras culturas, como a mandioca e a cana-de-açúcar, conseguiram manter bons níveis de produtividade, apesar das dificuldades climáticas. Já a fruticultura teve resultados variados: enquanto poncã, banana e goiaba se desenvolveram bem até maio, a laranja colhida entre junho e outubro sofreu perdas significativas devido à estiagem prolongada. A colheita da maçã também ficou abaixo do esperado por conta do excesso de chuvas durante a floração.
O Desafio das Mudanças Climáticas
Os dados reforçam que o Paraná enfrenta um cenário de aquecimento contínuo, seguindo a tendência global. Em 2024, quase metade das estações meteorológicas do estado registraram recordes de temperatura máxima anual, enquanto 56% apontaram recordes de temperatura mínima. O aumento das temperaturas está associado a fatores como emissões de gases de efeito estufa, urbanização acelerada e desmatamento.
O aquecimento global já impacta diretamente a produção agrícola, tornando essencial o investimento em tecnologia e adaptação das lavouras às novas condições climáticas. Com eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes, o setor agropecuário precisa se preparar para um futuro de desafios constantes na gestão hídrica e na manutenção da produtividade.
Fonte: Agrometeorologia do IDR-Paraná1 e técnicos da SEAB/DERAL2